Em uma viagem de carro partindo de Santiago até a fronteira com o Peru percorri durante 30 dias as maravilhas do norte do Chile e me surpreendi com lugares que poucos brasileiros conhecem. Um deles foi o Valle de Elqui, em Português, Vale do Elqui.

Enquanto organizava a viagem cogitei excluí-lo do meu roteiro, mas decidi ouvir os conselhos de um amigo chileno que dizia ser um grande equívoco não visitar este vale belíssimo. Esse artigo é a prova de que meu amigo estava certo!

O brasileiro não tem costume de realizar viagens longas e isso limita sua visita à atrações e cidades que se encontram próximas aos aeroportos principais. Por essa razão, poucos brasileiros visitam o Vale do Elqui. Apesar disso, o lugar estava repleto de europeus, americanos e também chilenos.

O que mais me seduziu ao ler sobre o Vale do Elqui foram as belas paisagens da cordilheira contrastando com o verde das plantações de uva. Em segundo lugar, a fama que o local tem de abrigar um dos céus mais límpidos do planeta. Para minha surpresa, havia muito mais nessa pequena região do que estrelas e videiras.

A região é famosa por ser o maior centro produtor do Pisco, a bebida símbolo do Chile. Há diversos observatórios de estrelas e inúmeras atividades ao ar livre como: passeios a cavalo, de bicicleta e rotas para caminhadas.

Dizem que aqui são avistados seres extraterrestres e que a grande quantidade de minerais no solo guarda energias com poder de cura. Se é verdade ou não, o que posso garantir é que as belezas do lugar foram o suficiente para me encantar.

O vale também atrai aficionados por literatura, pois aqui nasceu a poeta, professora e vencedora do Prêmio Nobel, Gabriela Mistral.

A rota percorrida se chama Ruta de las Estrellas e é composta por diversos povoados, dentre os principais estão: Vicuña, Pisco Elqui, Cochiguaz, e Monte Grande

Quanto tempo…

O ideal para conhecer as vilas, suas atrações e seu maravilhoso céu estrelado são 3 dias e 2 noites. No caminho entre La Serena para Vicuña você, provavelmente, irá realizar algumas paradas para contemplar a paisagem e isso o fará chegar a Vicuña próximo a hora do almoço. Se o tempo estiver bom, tente reservar uma visita à algum centro de observação astronômica. Percorra as ruas de Vicuña pela tarde e visite o Museu de Gabriela Mistral. Sugiro que durma essa primeira noite em Vicuña.

No dia seguinte conheça as demais vilas que fazem parte do vale e, se possível, durma uma noite em Pisco Elqui para provar do misticismo do lugar. Na manhã do terceiro dia, termine as atrações que ainda não visitou e retorne para La Serena.

Não deixe de…

• Visitar uma pisquera (destilaria de pisco);
• Visitar um ou dois observatórios astronômicos
• Visitar uma vinícola
• Caminhar sem rumo pelas ruas de Vicuña e Pisco Elqui
• Explorar as feiras de artesanato local

Outubro e novembro marcam o início da temporada turística. O clima é bom e ainda não há muitos turistas porque os chilenos e argentinos ainda não estão de férias.

Dezembro, janeiro e fevereiro são os meses da altíssima temporada. Apesar de não haver um número incômodo de visitantes, é recomendado reservar visitas aos observatórios astronômicos mais disputados com antecedência para não correr o risco de ficar sem vaga.

Março e abril são os meses da vindima (colheita das uvas). O clima ainda é bom para atividades ao ar livre e o número de visitantes já é bem menor.

Maio a setembro é a baixa temporada. Muitas atividades param de ser oferecidas ou tem sua frequência reduzida devido ao frio e a neve nas montanhas. As videiras estão descansando, sem folhas e com aparência de mortas.

O acesso ao Valle de Elqui se dá a partir da cidade de La Serena, capital da IV região e segunda cidade mais antiga do Chile.

La Serena encontra-se às margens da Rodovia Panamericana ao norte de Santiago. A distância entre as duas cidades é de 473km – aproximadamente 5h de viagem sem contar as possíveis paradas. De La Serena ao Valle de Elqui são mais 65km até Vicuña.

AVIÃO: La Serena possui aeroporto com voos frequentes de e para Santiago do Chile, mas o valor da tarifa pode não valer a pena. Dependendo do seu tempo e dinheiro disponíveis sugiro que vá de carro partindo de Santiago.

CARRO: Essa é a melhor maneira de se explorar a região. As estradas são ótimas e você poderá parar quando e onde quiser. É possível alugar veículos em La Serena, de lá até Vicuña são 1h, mas você provavelmente irá fazer paradas no caminho e isso aumentará o tempo de viagem.

ÔNIBUS: Os ônibus partem do Terminal de Buses de La Serena e também do Terminal de Buses de Coquimbo. De La Serena a Vicuña são 1h30m, até Montegrande são 2h e até Pisco Elqui são 2h30m. Há diversas saídas por dia exceto na baixa temporada.

Não recomendo ir e voltar no mesmo dia, o tempo não será o suficiente para conhecer tudo com calma.

O pisco é uma água ardente produzida através da destilação do vinho de uvas moscatel e é, sem dúvidas, a bebida nacional do Chile.

Com uma média de 300 dias de sol por ano e solo alcalino, o Valle de Elqui possui a combinação perfeita para a produção de uvas extremamente doces e com baixa acidez que fizeram do Valle de Elqui o maior centro produtor de Pisco no Chile.

A origem de seu nome vem do quéchua – língua falada pelos incas – e significa “pássaro voador”. Os chilenos geralmente consomem o pisco como um aperitivo refrescante chamado Pisco Sour, uma mistura de pisco, suco de limão e açúcar que se assemelha a caipirinha. Muitas vezes é acrescido clara de ovo batida para formar uma espuma que cobre a bebida.

Apesar de ser considerada a bebida nacional, há uma rixa entre chilenos e peruanos sobre quem inventou o Pisco. Até o momento, a World Intellectual Property Organization reconhece o Peru como inventor do Pisco, uma vez que foi lá que o plantio de uvas foi introduzido na América do Sul e há registros do consumo da bebida na região desde 1613. Sugiro que não tente discutir isso com um chileno.

Atualmente, os chilenos são os maiores produtores e exportadores de pisco, além de o produzirem com maior qualidade que o pisco peruano.

Para ver a localização de cada local utilize o mapa que se encontra no final deste artigo

Embalse Puclaro (represa): Embalse é o nome em espanhol para represa. Esta se encontra no caminho entre La Serena para Vicuña, possui belas vistas e água cor verde esmeralda. Vale a pena a visita! Está aberto de terça a domingo.

Museo Gabriela Mistral (museu): Construído no local onde Gabriela Mistral passou parte de sua vida, este museu conta a história da professora de uma escola rural que se tornou a primeira sul-americana a receber o Prêmio Nobel de literatura, em 1945. Aberto de terça a sexta.

Pisco Capel (destilaria): Oferece passeios de 45min pela destilaria com direito a degustações. Essa é uma das marcas mais famosas de pisco do Chile.

Pisquera Aba (destilaria): Visita recomendada para quem deseja conhecer uma produção mais familiar e artesanal do Pisco e passar por todas as etapas da produção da bebida.

Observatorio Cerro Mamalluca (observatório astronômico): Maior atração do Vale do Elqui e, portanto, muito disputado entre os turistas. As visitas acontecem à noite duram 2h. As reservas podem ser realizadas no escritório localizado em Vicuña ou pelo site, faça a reserva com bastante antecedência.

Observatorio de Cerro Tololo (observatório astronômico): Este é outro observatório mega disputado da região. Seu telescópio possui 4m, mas, apesar do tamanho, não é possível observar com eles, nem os próprios astrônomos podem, já que as imagens obtidas são projetadas diretamente em um monitor. Os tours acontecem aos sábados e recomenda-se agendar com pelo menos 1 mês de antecedência no site.

Casa Escuela Gabriela Mistral (museu): Humilde casa feita de adobe onde Gabriela Mistral viveu e lecionou entre 1892 e 1900. Naquela época, as professoras de zonas rurais tinham o direito de residir na escola em que lecionavam.

Mausoleo Gabriela Mistral (sepultura): Localizado em Monte Grande, este local abriga os restos mortais da poetisa, professora e diplomata chilena.

Destilería Pisco Mistral (destilaria): Localizada em Pisco Elqui essa destilaria produz pisco de qualidade superior e é famosa em todo o país. As visitas duram cerca de 1h e há degustação.

Cavas del Valle (vinícola): Pouco antes de chegar a Monte Grande, encontra-se essa vinícola que oferece visitas com degustação.

Pueblo Artesanal de Horcón (artesanato): Esse mercado pitoresco, que se encontra no povoado de Horcón oferece artesanato, bijuterias, comida e até cosméticos. Funciona todos os dias no verão, no restante do ano, de terça à sábado.

Alcoguaz (aldeia rural): Se não se incomodar em conduzir pela estrada de terra, vá até esta vila pequena para ter uma ótima visão de como é a vida nos lugares mais interioranos do Chile. Apesar de ser afastada, o local possui opções para comer e para dormir. Apesar de ser de terra, a estrada tem boas condições.

Paso del Água Negra (passagem entre montanhas): A estrada sinuosa da Ruta 41 te levará até a fronteira entre o Chile e a Argentina. A altitude é de 4.765m e as vistas são espetaculares. Qualquer veículo pode chegar facilmente ao local. Se seguir para a Argentina chegará a San Juan. Se não tiver carro, saiba que as operadoras de tours da região oferecem passeios para o local. A represa La Laguna lhe impressionará com suas águas de cor azul turquesa. Os passeios só acontecem durante o verão.

Sugiro que passe 2 noites no Valle de Elqui, sendo 1 em Vicuña e outra em Pisco Elqui. Há acomodações para todos os bolsos e gostos em toda a rota: desde campings, a cabañas (chalés), hotéis e SPAs.

Não vou fazer recomendações por considerar que os gostos variam de acordo com o perfil do viajante e com o orçamento da viagem.

O imperdível da região é provar o Pisco e se for na versão Pisco Sour é ainda melhor. No entanto, a região também abriga cervejarias artesanais e algumas vinícolas.

O meu prato favorito desta região do chile é o Pastel de Choclo. Apesar do nome, não se trata de um pastel (que em espanhol seriam as empanadas) Ele lembra um pouco o nosso escondidinho, porém, base é feita de milho, é um prato agridoce e recheado com frango ou carne moída e azeitonas.

As empanadas da região também são imperdíveis.

• Para uma visita mais íntima, tente visitar o Valle de Elqui durante a semana com exceção da segunda-feira, pois muitas atrações fecham neste dia.
• Reserve os observatórios mais disputados com pelo menos 1 mês de antecedência. As observações não acontecem em noites de Lua Cheia devido à claridade do satélite natural.
• No inverno muitos passeios não operam e as vinícolas ficam secas, tirando muito da magia do local.